Agora chegou a vez de falar do último indicado à categoria de melhor figurino no Oscar: A Balada de Buster Scruggs (veja o trailer). O único filme da lista lançado na plataforma digital da Netflix é o mais diferente em questão de roteiro. Inicialmente, a trama de faroeste seria contada em uma série, mas acabou virando um filme dividido em 6 histórias. Desde um fora da lei e um ladrão de banco à uma jovem que perdeu seu irmão, os Irmãos Joel e Ethan Coen conseguem contar histórias irônicas, melancólicas e cheias de humor.  

 O filme chegou no cartaz da Netflix em novembro de 2018 e já conquistou muitas críticas positivas, como a do site Cinema com Rapadura que conta como o filme consegue mostrar o faroeste a partir das emoções dos personagens e ainda deixa um elogio ao figurino: Há viagens de caravana, ataques de índios, roubos a banco, artistas viajantes, pistoleiros, duelos, garimpo, caçadores de recompensa… tudo com figurinos e locações brilhantes.  

Os irmãos Coen carregam uma bagagem muito boa de prêmios, contando com estatuetas do Oscar, como pelo filme Onde Os Fracos Não Tem Vez (2007), e outras até no Festival de Cannes. Também precisamos comentar sobre o elenco com atores famosos e outros nem tanto: Tom Waits (O Velho e a Arma), Liam Neeson (A Lista De Schindler), James Franco (Homem-Aranha), Tim Blake Nelson (O Incrível Hulk), Clancy Brown (Cowboys & Aliens) e Zoe Kazan (Vida Selvagem).

 As indicações em Melhor Figurino no Oscar e no BAFTA foram inesperadas, mas super válidas depois da vitória de Melhor Roteiro no Festival de Veneza e ainda mais pelo figurino ser assinado por Mary Zophres. A figurinista norte-americana já foi indicada ao Oscar por La La Land (2016) e trabalhou no filme Primeiro Homem (2018) que também está concorrendo nas premiações do Oscar pela direção de arte.

 A figurinista já deve estar acostumada com os diretores Joel e Ethan Coen porque já trabalhou com eles outras vezes nos filmes Fargo: Uma Comédia de Erros (1996); E aí, Meu Irmão, Cadê Você? (2000); O Homem que Não Estava Lá (2001); Bravura Indômita (2010); Ave, César! (2016). 

 Mary Zophres fez quadros de inspiração para o figurino e fez uma pesquisa pensando em cada personagem: “Eu consegui ver como cada personagem era e imaginei as roupas a partir das orientações e características que estavam escritas no roteiro”. Ela também contou ao amNewYork que esse período do final do século XIX, quando as fronteiras dos EUA estavam em expansão, tem uma silhueta bem específica e que os próprios atores também influenciaram em suas escolhas para o figurino (ela já pensava no que ficaria bom em cada um). 

 A figurinista se baseou em diários, artefatos de museus, fotografias e livros de bibliotecas  do século XIX para criar um figurino com casacos (com altura até o joelho e no modelo de um fraque), saias longas e bem volumosas como as da Era Vitoriana (do mesmo século XIX), chapéus com aba larga e camisas de lã. Ela contou que foi difícil achar peças de lã e fez muita pesquisa para encontrar, indo na loja de tecidos B&J nos EUA e em outra loja na Georgia, que enviou algumas peças antigas. Além disso, os outros tecidos vieram da Itália e do Reino Unido. 

 Ela achava que o roteiro fosse menor, mas como a história é dividida em 6 partes, seu desafio era fazer figurinos para vários cenários. Um truque foi usar a mesma peça em cenas diferentes: “Nós usamos a mesma bota de cowboy dos figurantes em alguns atores principais e usamos os mesmos suspensórios e regatas (daquelas de usar por baixo da camisa)”, disse ao site Filmmaker Magazine

 Na pré-produção, a figurinista teve tempo para pesquisar mais sobre as roupas de filmes de velho oeste, porque mesmo já tendo trabalhado com isso, ela precisava refrescar a memória. Ela contou ao Gold Derby que tem duas reuniões com os diretores, a primeira para mostrar suas ideias iniciais e a segunda para mostrar croquis e seus quadros de inspiração, as fotos de referências são muito importantes para ilustrar o que ela tem em mente. A mesma coisa acontece aqui no Brasil, seguimos a mesma metodologia, uma reunião para conversar com diretor e diretor de arte sobre o figurino de cada personagem e a outra para mostrar a prancha de referências e desenhos. Por isso que é muito importante o figurinista saber desenhar.

 O filme foi um desafio por ela ter que fazer coisas novas, como a roupa coberta de panelas na cena em que James Franco foge depois de roubar um banco e a do ator Harry Melling (personagem sem braços e pernas). Os diretores queriam que fosse uma cena bem real e com poucos efeitos (um desafio e tanto já que o ator tinha braços e pernas na vida real e a roupa teria que ser feita pensando que essas partes seriam “removidas”). 

 Para esse personagem, ela olhou os vídeos de um youtuber australiano com a mesma condição física para entender como a roupa ficava nele e teve muitas tentativas para dar certo. Ela demorou dois dias para ter a ideia final da roupa do ator Harry Melling: uma camisa com quatro mangas. 

 Funcionou assim: se a filmagem fosse de frente, ele colocava os braços em duas mangas nas costas e as outras ficavam presas no ombro (como na foto) para disfarçar a ausência dos braços; se a filmagem fosse de costas, ele colocava os braços na parte da barriga e as outras mangas ficavam dobradas. Essa peça está em exposição junto com outras 15 peças até o final de Maio no Museu da Imagem em Movimento em Nova Iorque. 

 Para o personagem Buster (Tim Blake Nelson), que aparece já na primeira história do filme, a figurinista sabia pelo roteiro que sua roupa era branca e se parecia com as de Gene Autry, ator e cantor country das décadas de 1930 e 1950 nos EUA. Ela preferiu uma camisa na cor creme e calça clara com uma peça típica dos cowboys chamada de “chaparejo”, que é uma proteção de couro ou camurça que vai por cima da calça. “As roupas dele marcam a silhueta e destaca ele do cenário”, disse ao Indie Wire

 A figurinista estava empolgada para o personagem de Tom Waits, que teve que deixar o cabelo e a barba crescerem a pedido dos diretores Joel e Ethan. Ela queria que o personagem usasse calça xadrez e camisa de lã. “Nós fizemos 90% do figurino”, disse Mary e como lã era difícil de achar, a equipe acabou encontrando em uma loja que recria peças da Guerra Civil. 

 Com medo do ator não gostar da calça xadrez, ela também fez outro modelo, mas não precisou ser usado: “Você não vai querer ver um ator nas câmeras se sentindo desconfortável com a roupa, mas ele amou a calça. Ele vestiu e começou a cantar, e esse foi um dos melhores momentos que eu tive em uma prova de roupa”.  É na prova de roupa, quando o ator coloca o figurino que o personagem aparece, e isso é um dos momentos mais prazerosos de se fazer figurino.

 Ela contou ao Deadline que o processo de criação para o personagem foi longo porque teve que fazer as peças principais e outras iguais para as cenas que as roupas já estão mais sujas. 

 A calça, a jaqueta, a bota e o suspensório foram feitos pela equipe de figurino, mas ela alugou o chapéu e disse que escolheu o que fosse maior e mais desengonçado entre 50 chapéus, algo que ela pudesse lavar e secar para poder usar de novo. 

 As botas foram copiadas de um modelo que estava para alugar em outro acervo, mas não dava para usar porque era muito frágil e ela precisava de uma resistente porque o roteiro dizia que o personagem iria andar na água e na terra (por isso ela escolheu fazer uma bota de cano alto). 

 A equipe usou a bota alugada só para tirar as medidas e fizeram outro modelo que depois foi para o departamento de envelhecimento, onde o artista Rob Phillips deixou a bota com impressão de desgastada. Atenção para o status de envelhecista nos EUA "artista".

Os diretores pediram no roteiro um casaco de pele para o ator Liam Neeson e a figurinista teve dificuldade em achar fotos da época como referência porque a maioria era em estúdio e ela não sabia se devia confiar. Mary acabou pesquisando mais em livros e achou a descrição de um casaco feito com pele de carneiro, depois encontrou também a foto de uma reprodução desse casaco em um museu. Mesmo com os diretores aprovando, a equipe não encontrou o material para tingir na cor certa e acabaram usando tapetes da loja Ikea. Esse jeito de fazer o casaco do personagem já foi usado por outros figurinistas, como a própria Mary Zophres lembra da roupa usada por Jon Snow em Game of Thrones. 

Uau que dica interessante!!!

 Já sabemos quais são os filmes na categoria de Melhor Figurino do Oscar e todos são concorrentes de peso, ainda mais com A Favorita que está levando vários prêmios e recebendo muitos elogios, tirando o foco até de Pantera Negra. Sabe que você consegue ler sobre os detalhes dos figurinos desses dois filmes aqui no blog né? Clica aqui pra A Favorita e aqui pra Pantera Negra.

Em um disputa com a gigante Sandy Powell, que concorre por dois filmes, quem você acha que leva o prêmio

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