O Figurino quase todo vegano do filme The Green Knight
“Eu sempre pesquiso para ter uma ideia sobre o período, é claro, mas o que mais me fascinou foi a natureza multidimensional da história - essas idéias de si mesmo, livre arbítrio, fé e destino”, disse Malgosia Turzanska em entrevista à Vogue. Ela que já havia trabalhado com Lowery em “Amor Fora da Lei” (2013), ficou fascinada pela profundidade do roteiro.
A figurinista tinha um conceito muito claro do que ela queria criar para o filme que não necessariamente estava atrelado a ser perfeitamente condizente com o período histórico em que a história se passa, mas aceitar que trata-se de uma lenda e que por isso havia espaço para desenvolver sua própria visão daquele universo. Mesmo com um orçamento reduzido, ela criou exatamente o que tinha imaginado.
A figurinista começou desenhando o que visualizava para cada personagem a partir do roteiro e disse em entrevista ao Observer ter assistido vários filmes, mas o que realmente a influenciou foram as pinturas e a metalurgia. “A história foi escrita, teoricamente, por volta do século 14, mas a lenda se passa no início do século 6, então decidi que seria mais emocionante começar a trabalhar e, a partir disso, entender como as roupas funcionavam naquela época”. Ela entendeu o metal como um dispositivo histórico e incorporou ele as roupas como visto nos milagros (amuletos) que estão cobrindo o vestido da Rainha Guinevere (Kate Dickie) e nas placas votivas com cenas de triunfos de batalha que cobrem o manto do Rei Arthur (Sean Harris).
Aliás, as coroas que Arthur, Guinevere e Gawain ganharam um design totalmente novo e visualmente impactante, a figurinista diz ter olhado para representações medievais de santos e seus halos, que para ela ajudam a enfatizar a importância quase divina destes personagens.
A questão de buscar materiais alternativos para o couro e pele veio de um pedido do diretor David Lowery, que é vegano, algo que mesmo sem nunca ter feito antes a figurinista abraçou em suas pesquisas. “Exploramos o uso de couro de abacaxi, couro de cogumelo, couro de coco e casca de árvore, que era um material fantástico em que eu nunca teria pensado”, disse ela à Vogue. “Eu não queria usar apenas poliéster ou plástico em vez de couro, então foi um fascinante o processo de descoberta.”
Um dos figurinos mais fantásticos e complexos foi o do próprio Cavaleiro Verde, feito de casca de árvore. “Nunca usei esses materiais antes e não teria procurado por eles se não fosse por David ser vegano e eu precisar encontrar uma maneira de incorporar isso ao figurino", explicou ela ao site Insider. O traje foi inspirado em uma armadura profundamente antiga e corroída encontrada pela figurinista e ornamentado com inscrições no alfabeto Sabaic (uma língua da Arábia do Sul que era falada entre c. 1000 AC e século 6 DC).
A cor mais marcante do filme é o amarelo da capa que Gawain usa ao embarcar em sua odisséia, esse raro toque de cor em meio a paisagem sombria de cinzas e verdes escuros veio do próprio cenário irlandês onde a maior parte das filmagens ocorreram, a figurinista acabou escolhendo o amarelo chamado de tojo, que é uma planta invasora irlandesa, segundo a figurinista, estava por toda a parte, uma forma de conectar o figurino à paisagem, deixando o herói sempre em destaque.
Os atores foram grandes colaboradores da figurinista e para ela Dev Patel mostrou suas qualidades heróicas mais uma vez: “Dev estava solto nas intempéries, constantemente molhado, coberto de lama. E assim, apesar do fato de termos muitos trajes múltiplos e estarmos tentando mantê-lo aquecido e seco, não havia como isso ser possível,” contou à Vogue.
A atriz Alicia Vikander, por exemplo, teve o desafio de interpretar duas personagens praticamente opostas em “The Green Knight” e a figurinista se divertiu com o desafio de vesti-la para estes dois papéis, para isso ela criou um figurino simples para Essel, amante de Gawain em Camelot, e outros completamente elaborados para a Lady sedutora que ele encontra no castelo durante sua jornada. Os trajes foram inspirados pelo estilo neo-gótico da locação.
Sobre Essel, alguns simbolismos foram considerados, antes da jornada de Gawain, ela lhe entrega um sino para que ele pense nela, esse símbolo foi incorporado pela figurinista, que descobriu que em muitas cidades as pessoas que eram consideradas impuras como prostitutas ou consideradas loucas eram forçadas a usar sinos em suas roupas para que pudessem alertar outros cidadãos de sua presença, algo que tocou o diretor e acabou se tornando parte da história.
Transpondo a poética do romance, a figurinista incorporou com maestria as sutilezas que falam visualmente sobre quem são e de onde vem esses personagens, além de ter criado de forma inovadora, encarando o desafio de trabalhar com materiais nunca antes usados para o propósito de criar um figurino desta magnitude abrindo precedentes para todos os outros profissionais da área e apontando a necessidade de repensar a indústria. Por esse feito o figurino do filme The Green Knight já consta no termômetro Oscar de 2022.
Palmas para essa iniciativa de Malgosia Turzanska, na torcida para ver muitos outros figurinos bebendo dessa fonte.
E se você tem vontade de saber o passo-a-passo pra fazer figurino conheça o Curso "Noções Básicas de Figurino para Cinema e Tv com Alice Alves".
Pra saber tudo sobre o curso clica aqui: https://www.hotmart.com/product/en/nocoes-basicas-de-figurino-com-alice-alves/A52612277G?sck=HOTMART_SITE