Estamos em Outubro de 2019 e o filme do momento é o Coringa. Com US$ 849 milhões de doláres arrecadados mundialmente, o filme se tornou a maior bilheteria da história do cinema de um filme para maiores de idade.

Depois de tantas críticas negativas da versão anterior do Coringa, interpretada por Jared Leto, foi a vez de Joaquin Phoenix mostrar uma boa atuação, se jogando de cabeça no processo de criação do personagem.

A história mostra Arthur Fleck, um palhaço que trabalhava em uma agência de palhaços  decadente a Haha's até ser demitido e começar a ter comportamento agressivo. Ele tem que lidar com seus problemas psicológicos e ao mesmo tempo cuidar de sua mãe doente. 

Para criar o figurino do novo Coringa, o diretor Todd Phillips convidou o figurinista Mark Bridges, que trabalhou com Joaquin Phoenix em O Mestre (2012) e Vício Inerente (2014). Ele foi premiado com duas estatuetas do Oscar, uma por O Artista (2012) e outra recentemente por Trama Fantasma (2018).   

"Todd mandou uma mensagem dizendo que tinha um projeto pela frente e eu considerei o convite certamente por ter sido feito por ele e claro, por trabalhar ao lado de um amigo antigo como Joaquin. Já tivemos uma experiência passada maravilhosa e eu confio nele. Nós conversamos e ele se mostrou aberto às minhas sugestões em como trabalhar da melhor forma o exterior do personagem, enquanto ele trabalha o interior", disse em entrevista. 

O figurinista já trabalhou em vários filmes de época, ambientados nos anos de 1950 à 1970, mas dessa vez a história se passa em Nova York, adaptada para ser Gotham City, durante o final de 1970 e início de 1980. Para entender o contexto e produzir o figurino, o diretor Todd Phillips indicou alguns filmes anti-heróis lançados em 1970 e ele também assistiu programas da época, como The Johnny Carson Show e The Merv Griffin Show

Essas duas últimas referências serviram para Murray Franklin (interpretado por Robert De Niro), um apresentador de televisão que prezava pela aparência. Nos anos 80, os homens gostavam de fazer uma combinação de duas peças de cor sólida e uma estampada, então o figurinista seguiu essa linha no personagem. 

O figurinista teve uma reunião com Todd Phillips, Joaquin Phoenix, a maquiadora Nicki Ledermann e a responsável pelo cabelo do elenco, Kay Georgiou. A cabeleireira disse que o diretor e o ator já tinham idéias claras em mente para o Coringa e a reunião serviu mais para discutirem o que eles já queriam para os personagens. 

Mark quis contar uma história através do guarda-roupa de Arthur, escolhendo peças que mostrassem quem o personagem era, qual era sua renda econômica e o quanto ele se importava com sua aparência. Por Arthur ser uma pessoa invisível na sociedade, as roupas que ele usava não iriam chamar atenção, então não precisava ser um figurino caro e totalmente estiloso, mas precisava ser prático. 

Um dos desafios para a equipe de figurino foi a evolução do corpo de Joaquin Phoenix, o ator teve que perder peso para o filme O Mestre (longa de 2012 sobre um soldado atormentado com a Segunda Guerra Mundial), mas o figurinista disse que dessa vez foi bem mais (no total foram 23 quilos) e toda hora eles tinham que ajustar as roupas, a sorte é que eles começaram as provas de figurino seis meses antes das gravações. "Foi engraçado porque o corpo dele estava evoluindo e nós estávamos tentando fazer as coisas. Quando a gente terminou, ele perdeu mais 4 quilos, então foi constantemente algo do tipo "talvez nós vamos precisar apertar mais um pouco", contou o figurinista.

Mark foi alterando a paleta de cores inspirada nos anos 80 - azul, marrom, bordô, malva e cinza - para tons mais escuros conforme Arthur vai se transformando em Coringa, mostrando como anda o emocional dele na história.  

Os fãs do personagem estranharam a cor da nova roupa do Coringa, já que o roxo foi trocado pelo vermelho, mas Mark não se inspirou nas histórias em quadrinho  do personagem e apenas pesquisou como era a aparência do Coringa em sua primeira aparição nos anos de 1940. Ele disse que as referências de quadrinhos não cabiam ao filme porque não era da DC Comics e sim, da Warner Bros.

No roteiro já estava pedindo que o terno do Coringa fosse antigo, como se ele já o tivesse há anos, mas mesmo com essa orientação ele se sentiu pressionado para fazer o melhor trabalho “Você tem milhões de pensamentos passando pela sua cabeça e tem um pouco de pressão externa para agradar aos fãs. Ultimamente meu trabalho conta uma história específica onde a roupa tem que ser orgânica. As roupas que já vimos Arthur usando antes, agora são repensadas para serem usadas pelo Coringa”, disse o figurinista.

Outra indicação no roteiro era que Arthur usaria uma blusa estilo anos 70 na cor terracota, mas o figurinista achou que era muito clichê. Eles fizeram um teste de câmera com um casaco inspirado em Ratso Rizzo do filme Perdidos na Noite e só depois decidiram usar uma jaqueta marrom claro porque teria um toque juvenil (já que Arthur mora com a mãe e compra roupas usadas). 

Alguns traços da roupa do Coringa foram inspirados em Charlie Chaplin, por isso as calças são mais curtas e o chapéu é em formato coco: "Eu queria tentar um chapéu maior, um de tamanho normal em homenagem ao Chaplin, mas quando eu coloquei uma miniatura de um chapéu coco foi mais do meu agrado e foi minha pequena homenagem a ele", disse o figurinista

A maquiadora Nicki Ledermann, que trabalhou recentemente em The Irishman do Martin Scorsese, disse que o projeto se torna tão interessante por ter uma história tratada como se fosse vida real, não como algo fantasiado no universo dos super-heróis. 

"Nós precisávamos criar uma maquiagem simples de palhaço que não fosse comparada com a de ninguém", disse a maquiadora

Você sabia que existe uma lei fora do Brasil que garante que cada palhaço não tenha sua aparência copiada? Esse foi o desafio da maquiadora, ela não poderia trazer traços de outros palhaços e usou apenas as referências que o diretor indicou. Se você ficou curioso para saber sobre essa lei, é só dar uma olhada nesse site

No roteiro, o cabelo do Coringa é preto, mas a cabeleireira Kay Georgiou sabia que seria muito escuro e preferiu cortar e tingir o cabelo do ator com outra cor. Ela disse que se fosse preto poderia não aparecer direito na filmagem, então usou uma cor mais clara, mas que também não fosse super clara para não distrair na cena: "Qualquer coisa que você faz no cabelo na vida real, sempre vai iluminar mais escuro no filme, então nós queríamos o cabelo natural dele com um tom acima". 

Com a transformação do personagem, seu cabelo muda para um tom de verde que a equipe chamou de “verde brócolis”. A ideia veio do designer de produção Mark Friedberg e o diretor escolheu o tom: “Todd adorou e era só uma questão de escolher o tipo de brócolis - orgânico, mais barato, corte fresco, mais velho - tem uma quantidade enorme de verdes brócolis por aí", disse Georgiou.

O mais legal do filme é que tudo foi realmente pensado para se combinar, por isso vamos falar de mais um elemento super importante para contar a história do personagem: a iluminação.

No início, a baixa iluminação com tons de verde e amarelo mostra a solidão de Arthur. Logo em seguida ele tenta sorrir, mas acaba derramando uma lágrima que escorre na maquiagem azul. Aqui o azul significa a tristeza dele, ainda mais que foi usado na maquiagem dos olhos. 

Quando ele está sem a fantasia de palhaço, em seu cotidiano normal, ele usa tons pasteis e amarelados, para dar a impressão de que ele vive sem motivação e não está feliz. 

O amarelo continua em seu colete na cena do metrô quando ele faz suas primeiras vítimas, e aqui novamente lembra o quanto ele está só e melancólico. Na sequência dos assassinatos, a cor muda de significado e se torna desespero e insanidade.

Nos momentos de tristeza ou quando ele pensa em cometer suicídio, a iluminação é fria e na cor azul. 

Mas quando ele se entrega ao seu desejo de matar e ser o Coringa, a iluminação se torna quente e dá força ao personagem que vê motivação para viver no mundo onde ele era rejeitado, mas passou a ser aclamado por anarquistas, assaltantes e assassinos. Inclusive, o vermelho aparece como sangue e representa o poder que ele está conseguindo.    

O figurino do filme não deixa a desejar em nada e ficou tão bom que sem ele, a caracterização do personagem não seria a mesma e ajudou esse Coringa a ser visto como a melhor versão lançada até hoje. O longa mereceu até o Leão de Ouro (prêmio de melhor filme) no Festival de Veneza e foi a primeira vez que um personagem de histórias em quadrinho recebe uma estatueta em premiações dessa escala. 

Deixa nos comentários o que você achou dessa nova versão do Coringa com o figurino Mark Bridges. 

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