Downton Abbey foi exibida em 6 temporadas até 2015, mostrando a vida da família aristocrata Crawley e de seus funcionários entre os anos de 1912 a 1925. Mas não tem problema se você não assistiu nenhum episódio porque sabendo quem são os personagens já dá para entender o filme.
O filme, dirigido por Michael Engler, continua a história dos Crawley em 1927, dois anos depois da última temporada e nas novas aventuras a família vai viver romances e rivalidades enquanto recebem o Rei George V e a Rainha Mary.
O clima divertido do filme é garantido porque os monarcas levaram os próprios servos do Palácio de Buckingham e o plano da família Crawley é mostrar que os membros de sua “equipe” de serviçais consegue dar conta de tudo sem ajuda deles.
O elenco continua o mesmo: Elizabeth McGovern, Michelle Dockery, Maggie Smith, Laura Carmichael, Hugh Bonneville, Jim Carter, Anna Bates e Allen Leech. A novidade é Imelda Staunton (que interpreta Dolores Umbridge em Harry Potter) no papel de Lady Bagshaw.
Vamos apresentar os personagens principais ao longo do texto, mas antes disso precisamos falar sobre o figurino que continua impecável. A figurinista Anna Robins já está familiarizada com Downton Abbey por ter trabalhado na série nos anos de 2014 para 2015.
O filme mal chegou nos cinemas e rendeu à figurinista o prêmio de Figurinista do Ano no Hollywood Film Award (evento que inicia a temporada de premiações, sendo considerada o esquenta para o Oscar segundo o próprio site).
O novo desafio foi recriar o guarda-roupa do Rei George V (interpretado por Simon Jones), da Rainha Mary (interpretada por Geraldine James), e de seus serviçais, porque na vida real eles realmente visitaram a região onde fica Downton Abbey.
Diferente do filme, a visita aconteceu em 1912 na Wentworth WoodHouse, uma propriedade do condado histórico de Yorkshire, onde também fica o castelo que usaram para gravação. A família real levou tantos serviçais, que foram necessários 76 quartos para acomodar todos eles. Sorte que a casa de campo é tão grande que tem 350 cômodos.
Voltando para o figurino, Anna queria que as jóias usadas pela Rainha Mary fossem muito parecidas com as originais: "Não poderia ser algo genérico. Tinha que parecer que você já viu a Rainha Elizabeth II usando". A solução foi usar réplicas da coroa, colares, brincos, broches e braceletes.
A joalheria Bentley & Skinner emprestou 3 peças para usar na cena do baile. As três tiaras super caras foram usadas por Violet, Edith e Cora. Uma curiosidade é que nessa época só mulheres casadas podiam usar tiaras e as que foram escolhidas para o filme foram duas no modelo vitoriano e outra eduardiana. Diamante é o que não falta e uma das tiaras tem 16,5 quilates!
A figurinista também sabia que a produção seria diferente da série (porque nas telas do cinema os detalhes aparecem muito mais e em alta qualidade) e seu objetivo era elevar o nível do figurino que ela já fazia para a televisão.
Para pesquisar as roupas usadas na década de 1920, ela fez visitas ao Victoria and Albert Museum em Londres, e para as roupas reais, ela se baseou em fotos deles na época: "A pesquisa foi muito diferente, porque eles são personagens reais, então você procura por imagens deles, e tem muito material para trabalhar. Foi muito fascinante! Eu procurei pela época específica, o mês do ano e como eles estariam vestidos".
A figurinista comentou para a Vogue que Cora (Elizabeth McGovern) é uma personagem com estilo clássico, mas que gosta de seguir tendências da moda, então com as mudanças da década de 1920, ela seguiu a moda da época já que a silhueta muda bastante nessa época.
Suas roupas agora tem tecido mais leve (a maioria são originais da época) e passam mais fluidez nos movimentos. Ela sempre usa peças na paleta de cores que complementam as usadas pelas filhas. O azul claro, que eles chamam de azul flor de milho (cor da planta cornflower blue - centaurea cyanus), e o malva (um tom entre o violeta e o magenta) são as cores que a figurinista escolheu para Cora, mas para um jantar romântico ela preferiu acrescentar o laranja.
Para Lady Mary (interpretada por Michelle Dockery), que perdeu o ex- marido e cuida da parte financeira de Downton Abbey com a ajuda do cunhado Tom Branson, a figurinista quis mostrar que ela é uma mulher de negócios trabalhando em um mundo masculino. Mary começa o filme com sua roupa de trabalho, montada com peças formais (camisa, gravata e colete de alfaiataria) para mostrar a tentativa dela se encaixar nesse ambiente.
Ela dá uma pausa dos trabalhos para organizar a vinda da família real e seu figurino muda para se adequar aos jantares e eventos chiques. Uma das cenas do filme mostra ela tomando chá com a Princesa Mary (Kate Phillips) e sua roupa é especial para a figurinista: "Ela está representando Downton Abbey e o vestido tem essa estampa linda de pequenas igrejas, árvores e campos. O tecido veio de um vestido original dos anos 20 e achei a estampa a cara de Downton Abbey", disse a figurinista ao site Fashionista.
Como ela preferiu mudar o vestido para o estilo de Mary, ela desconstruiu a peça, alterou a modelagem e estampou mais tecidos com o desenho original.
A figurinista queria mais cenas para poder vestir Mary com roupas mais glamourosas, mas só teve uma oportunidade durante as festividades reais. Para a ocasião, ela fez usou um vestido Delphos original (é um vestido de seda com pregas finas, inspirado em uma estátua grega clássica), pintou e o fez um decote em V.
Anna trabalhou com uma fábrica de tecidos italiana na última temporada da série e aprendeu a técnica inventada em 1907 pelos criadores do vestido (Henriette Negrin e seu marido Mariano Fortuny y Madrazo) para fazer as pregas.
No baile Mary usa um vestido que foi personalizado pela equipe de figurino com a ajuda de um bordadeiro contratado para completar o bordado até a barra do vestido.
Enquanto a maioria das roupas de Mary são customizadas ou feitas do zero, a figurinista procurou peças autênticas dos anos de 1920 para Lady Edith (interpretada por Laura Carmichael).
Edith começou a série Downton Abbey como a irmã perdida, mas depois da Primeira Guerra Mundial ela vai se destacando e conquistando as coisas sem depender do título da aristocracia. Ela aprendeu a dirigir (coisa que poucas mulheres sabiam na época), se jogou de cabeça como jornalista, até se apaixonou pelo editor do jornal, de quem engravidou e virou mãe solteira.
A figurinista quis aproveitar esses momentos, já que Edith finalmente encontrou seu caminho e começou a ter mais personalidade na última temporada (a figurinista até fala que a personagem desabrochou como uma flor).
Nessa nova fase Edith usa estampas florais e faz combinações com peças da mesma cor, sempre com uma textura para diferenciar.
Para as roupas do baile usadas por Edith, a figurinista se inspirou em uma peça de veludo amarela com um laço grande e fez duas recriações. O primeiro vestido criado foi pensado especialmente para o movimento da dança então é mais dramático e tem partes de tecido chiffon (fino, leve e um pouco transparente), que ela mesma pintou.
O tecido que ela queria era de veludo que refletisse a luz e desse contraste com o vestido de Lady Mary, assim a diferença de estilo e personalidade das duas irmãs ficaria mais evidente. "Eu queria que Edith ficasse realmente dourada - bonita, leve, um veludo dourado que colocamos uma estampa metálica por cima. O tecido por si só é lindo e esse foi meu ponto de partida", disse a figurinista.
Lady Violet Crawley (interpretada por Maggie Smith que já anunciou ser sua última atuação no papel) é avó de Mary e Edith. Como ela é mais velha, a figurinista queria que suas roupas mostrassem a evolução do estilo eduardiano até os anos de 1920 (época da história do filme). Ela teve que pensar em como trazer esse estilo para o filme com os novos tecidos e estampas.
As peças eduardianas eram usadas no Reino Unido entre os anos de 1901 a 1910 e na França o estilo ficou conhecido como Belle Époque. Durante o reinado do Rei Eduardo VII as roupas eram marcadas pela extravagância e luxo, visto em plumas, chapéus elaborados e bordados.
A Rainha Mary (interpretada por Geraldine James) é da mesma geração de Violet, mas a pesquisa foi focada nas imagens reais dela, inclusive ela conseguiu olhar as roupas originais da rainha e viu como foram feitas. O desafio da figurinista com esta personagem foi ser fiel a aparência da monarca, ainda mais com o formato de corpo da atriz que era bem diferente da silhueta da rainha.
“Eu não sei se eu poderia escolher só um figurino favorito, mas eu diria que é o da Rainha, com certeza, que é muito lindo. Embaixo da renda tem esse tecido lamê que realmente pertenceu a Rainha Mary e foi um privilégio poder usá-lo. Esse figurino é definitivamente um destaque na minha carreira”, disse ao site da Topshop.
Por falar em desafio, o maior de todos foi fazer o figurino para a cena da parada militar porque foram centenas de figurantes e mais centenas de peças extras para cada um. A sorte da figurinista foi que eles eram militares de verdade e super organizados, então na hora tudo foi mais fácil de gravar. Ela teve que alterar a coroa de rainha do uniforme deles (porque hoje é uma rainha) e colocar a de um rei, já que nessa época era o reinado de George.
Depois de 6 temporadas com figurinos muito bem feitos, não tinha como o filme fugir a regra e dessa vez está ainda mais incrível. Com tantas peças, qual é a sua favorita? Deixa nos comentários e não esquece de acompanhar o blog para ler os próximos posts.
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