Alguns filmes clássicos e contemporâneos escondem segredos em seus figurinos que dão indícios sobre características, costumes ou crenças dos personagens, que sem um olhar mais atento podem acabar passando despercebidos.Por isso, para o post de hoje fizemos uma seleção de 8 filmes muito conhecidos que escondem segredos em seus figurinos nem sempre notados por quem assiste e que merecem ser reconhecidos, assim como as figurinistas que os criaram:

1 - HARRY POTTER

É fácil perceber que algumas mudanças foram acontecendo no uniforme escolar de Hogwarts ao longo dos anos em “Harry Potter”, mas saber exatamente o que mudou pode acabar sendo um pouco mais desafiador para quem não estava prestando tanta atenção assim ao figurino. Com três diferentes figurinistas e quatro diretores trabalhando nos 8 filmes e quase 11 anos de filmagens é natural que transformações fossem ocorrendo.

Para o primeiro filme, a figurinista Judianna Makovsky teve que fazer muitos testes até chegar no uniforme final, a escolha inicial de lã para os coletes era quente demais e pinicava as crianças, então eles tiveram que ir adaptando os materiais utilizados até chegar no visual perfeito.

Apesar de o uniforme ser obrigatório em Hogwarts para quase todos os momentos, incluindo as aulas, refeições e momentos de estudo, o diretor do terceiro filme Alfonso Cuarón achava que eles distanciavam os protagonistas do público e propôs para a figurinista Jany Temime que peças de roupas comuns e cores definidas para cada personagem fizessem parte dos trajes daquele ano, as vestes escolares não sumiram, mas passaram mais uma vez por mudanças deixando as cores das casas em evidência e permitindo que cada um usasse as peças do seu próprio jeito algo mais condizente também com a fase da adolescência em que os personagens entravam. Essa ideia deu tão certo que seguiu sendo incorporada nos próximos filmes.

Além de Judianna Makovsky e Jeny Temime, a figurinista Lindy Hemming foi a responsável pelo figurino do segundo longa da saga.

Contando desde o início cerca de 600 modelos de vestes foram criadas só para o uniforme.

 

2 - MATRIX

Todo o figurino de “Matrix” se tornou um exemplo incrível de como filmes tem o poder de influenciar através do aspecto visual, a figurinista Kim Barret tinha como objetivo criar roupas sem tempo ou lugar determinado, por isso, ela misturou referências de lugares totalmente diferentes no tempo e na história.

O visual dos personagens dentro da Matrix é uma mistura de samurai com western, que apesar de inusitada funciona perfeitamente.

figurinista conseguiu encontrar materiais muito baratos para esse figurino e é incrível ver como deu certo na tela.

O macacão da Trinity foi feito em um vinil preto para passar a ideia de algo escorregadio, que escapa pelos dedos, como mercúrio. Ideia que partiu das diretoras que viam a personagem como uma mancha de óleo.

Quando você assistiu Matrix conseguiu perceber que era essa a comunicação que a personagem passou?

3 - LARANJA MECÂNICA

Assim como Stanley Kubrick é um diretor que traz muitos simbolismos para as telas, de forma clara ou subjetiva, a figurinista Milena Canonero, mesmo assinando pela primeira vez o figurino de um filme, soube incorporar estas nuances para criar uma imagem totalmente nova e original. Tanto que mesmo que você não tenha assistido “Laranja Mecânica”, existe uma imagem clara do visual dos droogs (drogados) na sua memória.

figurinista usou peças conhecidas por seu contexto elitizado como o chapéu-coco, a bengala, o suspensório e a criquete codpiece (é um tipo de tapa-sexo masculino usado neste jogo) e descontextualizou para um cenário atemporal de drogas, ultra-violência e crime.

A escolha, por exemplo, de usar o tapa-sexo por cima da calça foi uma forma de mostrar que o protagonista Alex, zomba da elegância e integridade das classes mais altas.

 

Os cílios postiços em um dos olhos, denotam uma indefinição das fronteiras de gênero.

A distorção subversiva de sinais de classe e gênero por Alex será relevante enquanto as estruturas de classe e gênero persistirem.

E isso é o que faz o filme atemporal.

A facilidade de reproduzir os figurinos dos droogs para ser usado em festas à fantasia e Halloween, também ajuda a perpetuar o filme.

4 - CLUBE DA LUTA

O figurinista Michael Kaplan foi a fundo entender quem era os personagens para criar o figurino de “Clube da Luta” e isso se reflete na credibilidade que as roupas dão a história. Para o personagem de Brad Pitt, Durden, ele se baseou na falta de dinheiro  que o personagem tinha e comprou peças de 10 dólares em brechós que foram usadas como molde para a criação de até 8 peças iguais, isso acontece porque o filme tem muitas cenas de luta e as roupas ficavam muito sujas de sangue, então precisa de várias iguais pro personagem e pros dublês. Essa ideia de comprar roupas que já pertenceram a outras pessoas para compor um visual único ajudou a moldar o caráter do personagem e dar profundidade.

O figurinista também trabalhou a cor como um presságio visual da violência da trama, a escolha da jaqueta vermelha de Durden nas palavras dele remetem ao “tom exato de sangue seco”.

5 - BATMAN

“Batman – O Cavaleiro das Trevas” de Christopher Nolan se tornou um dos melhores filmes de heróis da história por vários motivos e o figurino é um deles. Criado pela figurinista Lindy Hemming (você já viu o  nome dela aqui antes quando falamos de Harry Potter),  trouxe novas tecnologias para o figurino de heróis como o sistema de resfriamento do traje e novos materiais para fazer a roupa do Batman.

Para dar ainda mais realidade, a figurinista apostou em detalhes imperceptíveis para quem assiste, mas que interferem na construção dos personagens. O riquíssimo Bruce Wayne, por exemplo, tinha em todos os seus ternos da marca Armani, uma etiqueta especial escrita Giorgio Armani para Bruce Wayne.

Outro ícone o vilão Coringa, interpretado por Heath Ledger, teve seu visual criado a partir de uma mistura de referências anteriores do personagem com a moda vigente, já que o diretor queria fugir do aspecto de fantasia, para isso além das inspirações a figurinista adquiriu peças de marca também para o vilão como os sapatos comprados em Milão e uma gravata exclusiva da Turnbull & Asser, que veste a realeza britânica.

Cerca de 25 looks iguais em diferentes estágios de envelhecimento foram criados para o personagem.

6 - CRUELLA

Outra transição muito bem construída foi a do live-action da Disney, “Cruella”. Apesar de ser uma personagem que existia em forma animada, ela deu a figurinista vencedora do Oscar por “Mad Max: Estrada da Fúria”, Jenny Beavan, o desafio de pensar como ela chegou a se tornar aquela pessoa, quem ela era quando criança e como foi seu crescimento e suas referências. O roteiro, por exemplo, definiu que o filme se passaria na década de 70 e que Estella, que mais tarde viria a ser Cruella, aprenderia a se virar sozinha e trabalharia para a famosa loja londrina Liberty, tudo isso deu a figurinista recursos para criar uma transição fantástica da garotinha rebelde que usa o uniforme ao contrário, à jovem que abusa das referências punk com muito estilo se aproximando no final da imagem que temos da vilã da animação.

7 - O DIABO VESTE PRADA

O figurino de “O Diabo Veste Prada” é parte essencial da trama, principalmente porque trata-se de um filme sobre o mundo da moda, imaginem então a pressão sobre a figurinista Patricia Field para alcançar o resultado perfeito. Contatos eram tudo e ela buscou fazer os melhores acordos com marcas e designers de moda novos ou já consolidados, principalmente para a personagem icônica de Meryl Streep, Miranda Priestly.

Que o figurino da editora-chefe se tornou um sinônimo de poder todos já sabem, é na verdade em Andy, personagem interpretada por Anne Hathaway, que a figurinista teve que dedicar mais tempo para criar uma transição que não fosse totalmente abrupta entre uma completa falta de noção de moda e o estilo criativo que ela adquire no final. Detalhes como a inserção gradual de peças de marcas como a Chanel e mudanças no estilo e corte do cabelo, foram recursos-chave deste figurino.

8 - BARRY LYNDON

E aqui nesta lista mais um filme do Diretor Stanley Kubrick em parceria com a figurinista Milena Canonero.

Barry Lyndon é uma pintura em movimento, todos os enquadramentos do filme é de uma beleza surreal, parecem quadros pintados. E pra chegar nessa qualidade, o filme carrega muitas informações que você pode não ter percebido.

Uma delas é que o diretor queria que a figurinista usasse roupas reais do século XVIII, ela argumentou que seria muito difícil achar roupas para vestir todo o elenco. Kubrick falou pra ela rodar a Europa e ver o que achava e assim Milena Canonero fez e trouxe alguns vestidos de 1700, mas que estavam muito velhos, foi então que o diretor disse a ela que agora sim ela podia começar a criar os figurinos, à partir das peças reais que ela tinha em mãos. Com as peças ela conseguia ver o tipo de costura, tecido, pêso da roupa e fazer figurinos os mais próximos possíveis do real.

Ela ganhou um Oscar de Melhor Figurino por esse filme.

Desses filmes todos quais você mais gosta do figurino?

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