Nos Estados Unidos o Sindicato de Figurinistas premia os melhores na área em 8 categorias - CDGA (Costume Designers Guild Awards). Os prêmios são para: Filme Contemporâneo, Filme de época, Filme de fantasia/ Sci-fi, Variedade/Reality/Ao vivo, Série de época, Série contemporânea, Série fantasia/ Sci-fi, Comerciais/Clipes/forma curta.
No post de hoje vamos falar das figurinistas vencedoras para Série Contemporânea em 2019. A série é The Assassination of Gianni Versace: American Crime Story que passa no Netflix, e as figurinistas são: Lou Eyrich, ganhou quatro Primetime Emmy Awards por seus figurinos e mais nove prêmios no Costume Designer Guild Award, incluindo o de Carreira Realização em 2012, tá meu bem?! E a co-figurinista Allison Leach, sua antiga assistente de figurino em Glee. Allison não é tão conhecida, e você pode saber um pouco mais do trabalho dela por aqui ó: portfólio online.
A parceria de Lou Eyrich com o diretor Ryan Murphy já é de longa data e a maioria dos trabalhos dela são com ele: Popularidade (1999), Correndo com Tesouras (2006), Pretty Handsome (2008), Estética (2003-2010), Glee: Em Busca da Fama (2009-2012), Scream Queens (2015), Feud (2017), Pose (2018), American Horror Story (2011-2019), e American Crime Story (2016-2019).
Olhando essa lista dá pra ver que muitas dessas séries fazem sucesso e os fãs se lembram do trabalho da figurinista por roupas marcantes em American Horror Story, como a das bruxas que viraram o meme “On Wednesdays We Wear Black” (em oposição às quartas rosas de Meninas Malvadas), a de Lady Gaga como Scathach, e a de Evan Peters como Homem de Borracha. Detalhe: a fantasia desse personagem apareceu na primeira temporada da série e voltou de sete anos, na oitava temporada (2018).
Ah e além desse prêmio a série ganhou outros 16, incluindo o Globo de ouro por melhor série. Então vamos falar um pouco sobre a trama pra você entender o contexto e depois voltamos pro figurino.
O destino da marca foi definido pelo assassinato de Gianni, que de maneira inesperada morreu em frente ao portão de sua casa. O acontecimento teve destaque pela vítima ser muito famosa, mas não é lembrado por seu assassino, que não tinha motivos explícitos para ter cometido o crime.
Andrew Cunanan era um serial killer, de descendência filipina, super procurado pelo FBI nos anos 90. Desde a infância ele recebia atenção demais dos pais, que diziam que o filho era um prodígio e se endividaram para fazer todas as vontades dele. Durante sua vida ficou acostumado a ter todos os seus desejos atendidos e quando não conseguia, revelava seu lado obscuro.
Ele ficou conhecido entre os amigos por ser um contador de histórias, sempre inventando mentiras e uma delas foi contada a um amigo próximo: disse que em uma viagem à Itália conheceu Versace, o que não tinha acontecido, mas a sorte sempre dava um jeito que colaborar com Andrew. Foi em uma festa que ele teve a chance de ficar perto de Versace, que ficou encantado com sua beleza e usou a cantada de “já não nos conhecemos?”, o que confirmou a história que antes tinha sido inventada. A conversa não passou disso e mesmo assim, Andrew ficou fascinado por Gianni.
Depois de começar seus crimes (que envolviam pessoas próximas e que já se relacionaram com ele, por exceção de uma vítima que foi por acaso) ele fugiu da polícia e começou a frequentar Salt Beach, bairro de Versace em Miami, sempre caminhando ao redor da mansão dele. Ninguém poderia imaginar qual era sua intenção. Em uma saída para comprar revistas, Gianni foi surpreendido com dois tiros na nuca e morreu nas escadas da própria casa.
Andrew Cunanan não teve relações com Versace, mas sua obsessão fez dele uma vítima e logo em seguida o assassino se suicidou. O livro chamado Favores Vulgares, da jornalista Maureen Orth, conta toda a história de Andrew até o assassinato de Gianni e serviu como base para mais uma temporada da série American Crime Story (como o nome já diz, a série fala sobre crimes norte-americanos).
O produtor Ryan Murphy teve escolhas certeiras e além de uma temática muito famosa, também chamou um elenco bem conhecido: Edgar Ramírez como Gianni Versace, Penélope Cruz como Donatella Versace, Ricky Martin como Antonio D’Amico (namorado de Gianni), Darren Criss como Andrew Cunanan, Finn Wittrock como Jeff Trail (primeira vítima de Andrew), Cody Fern como David Madsen (segunda vítima), e Mike Farrell como Lee Miglin (terceira vítima).
Os atores dão um show de interpretação nesta série. Dá gosto de ver a atuação da Penélope Cruz.
Apesar de levar o nome de Versace no título, o foco principal é o assassino. A própria família do designer disse que não apoia a série e Donatella comentou que era pura ficção, desmentindo também o fato de seu irmão ter sido portador de AIDS (como a série mostra e o próprio livro diz que as amostras de sangue dele confirmaram).
Sem o apoio da família, o figurino não contou com um acervo Versace, mas o desafio de recriar peças foi realizado com sucesso pelas figurinistas. Tanto que foi reconhecido pelo Sindicato dos Figurinistas.
Ao assistir a série você tem a sensação de estar nos anos 90 e o responsável é o figurino. As figurinistas recriaram muito bem a época.
Em entrevista para o canal Dark Candy, a figurinista Lou Eyrich disse que ela queria recriar os Versaces respeitando a imagem deles, mas como o tempo de pré produção foi de cinco semanas, ela não conseguiu ler biografias para realmente conhecer cada um. Sua pesquisa foi intensa e ela disse ao site Dazed que começou estudando sobre as décadas de 1980 e 1990 para entender o estilo que usavam e principalmente o trabalho de Versace nesse período, como a coleção Barroca e a de Pop Art. "Por semanas eu lia cada livro que eu conseguia encontrar, não só de moda, mas de arte, cultura, sobre as coleções da marca e a casa de Versace. Como a série fala sobre a vida de Andrew Cunanan, nós precisamos entender a época, para saber como vesti-lo."
Eyrich e Leach contam a Variety que parte da pesquisa foi feita no Fashion Institute of Design & Merchandising em Los Angeles, onde elas puderam tocar nas peças masculinas do acervo de Versace (para conservar as peças, elas só podiam encostar nas roupas com luvas brancas).
Por não ter o apoio da família do designer, a equipe não recebeu roupas do acervo da marca, então as peças originais foram dos brechós A Current Affair e The Way We Wore em Los Angeles e o C Madeleine’s em Miami. Além disso elas também passavam cerca de 12 horas por dia procurando outras peças originais pela internet no Ebay, na Etsy e no First Dibs.
As que não conseguiram comprar, a costureira Joanne Mills fazia e Lou Eyrich comenta: “Você fala o que quer, mostra umas fotos e ela faz (...) Ela já trabalhou com alta moda, então estava confiante e recriou o que precisávamos. Algumas vezes não tínhamos tempo de recriar algo desse nível em dois dias, porque o tempo para televisão é muito rápido, mas não precisava ser idêntico, porque a intenção não é exatidão e sim honrar a beleza, criatividade e paixão de Gianni”.
O guarda-roupa de Gianni Versace é bem básico quando se trata de cores, mas já na cena inicial, o diretor Ryan Murphy foi bem específico em como ele queria o personagem: “Ryan queria um roupão rosa e nós fizemos do zero com a estampa grega das mangas feitas por uma máquina. A roupa usada por Versace quando foi assassinado foi recriada, e o logotipo da Medusa na camiseta foi um pedido do diretor porque ele queria essa imagem em toda parte”, disse Lou Eyrich.
Ele também queria que as figurinistas mostrassem o contraste entre o mundo luxuoso de Versace e a vida de gigolô de Andrew Cunanan, que vivia de status e invejava a vida do designer.
Na maioria das cenas (ele não aparece em todos os episódios), Gianni usa roupas com uma paleta tom sobre tom e está sempre no estilo clássico de camisa e calça. O que realmente deixa a roupa ter destaque são as estampas da marca e as peças originais Versace, como camisas com estampa barroca, cintos, sapatos e óculos.
É com o personagem de Gianni que você percebe que, apesar da marca ter designs extravagantes, ele era o oposto sendo bem minimalista.
Penélope Cruz estava sempre ajudando as figurinistas e se esforçou para interpretar o personagem de maneira fiel porque é amiga de Donatella Versace e usa muitas peças da marca em eventos.
Uma peça que não foi usada na série, mas que as figurinistas destacam, é o vestido rosa usado por Penélope. Ele é de seda com fenda, decote, cauda e é detalhado com alfinetes de segurança banhados a ouro da própria Versace. A figurinista Lou Eyrich se inspirou em um vestido original da marca, mas não fez uma réplica perfeita porque seria plágio.
Outra recriação foi o vestido preto de couro usado por Donatella no Met Gala de 1996, com tiras de couro e transparência: “Nós tentamos deixar bem parecido e foi difícil de achar um bom couro, as botas e o cinto”.
O guarda-roupa da personagem não era só Versace, e também teve um espartilho da Dolce & Gabbana; vestidos, jaqueta e botas do designer Alaïa; e uma calça de couro vintage.
Boa parte da história se passa depois que Gianni é assassinado, então tem muito preto, mas mesmo com a Donatella de luto, as figurinistas queriam mostrar o lado forte dela, como uma mulher de negócios que tem que assumir a marca da família. “Os momentos depois da morte de Gianni foram difíceis, porque nós não podíamos colocar dourados e cores vivas como Donatella usava”, conta Eyrich para o CR Fashion Book.
A figurinista seguiu as descrições do livro Favores Vulgares para escolher as roupas de Andrew Cunanan e o estilo das peças mudavam ao mesmo tempo que seu estilo de vida também ficava diferente. “Ele se importava com status social e fazia de tudo para se encaixar, atuava como se fizesse parte daquele mundo rico. E quando sua vida começou a desmoronar, eram suas roupas que mostravam essa transição”.
Ele usava peças caras (como smoking, camisas, suéteres e sapatos Ferragamo) quando estava em relacionamentos com homens mais velhos em troca de dinheiro. Mas depois que teve que viver por si, ele não decidiu trabalhar para ter o mesmo padrão de vida e acabou se perdendo no mundo das drogas. Nessa fase ele usava camisetas, bermudas e roupas do marido de sua amiga Elizabeth (que eram bem mais caras e serviram para impressionar um de seus namorados).
Lou Eyrich comenta que enquanto Versace queria o glamour com conforto, Andrew era um camaleão e se vestia para se encaixar no mundo de cada pretendente mais velho.
Nessa época (1990) os ternos masculinos não eram tão parecidos com os atuais: "Hoje as pessoas usam terno sob medida e as calças são mais apertadas, mas nos anos 80 e 90 as roupas eram mais largas nos ombros e as roupas pareciam estar maiores no corpo de quem vestia", disse Lou Eyrich para o The Credits.
A cena mais trabalhosa foi a da recriação do desfile de uma coleção feita por Gianni e Donatella, no ano de 1997, em Paris (esse foi seu último desfile). Foram 17 vestidos recriados pela equipe, tendo que pensar em como conseguir tecidos metalizados, brilhantes e de algodão que fossem parecidos com os originais. E para cada um sair da melhor maneira possível, eles fizeram um vestido por dia. “Nossa costureira nunca tinha trabalhado com tecidos de pedrarias, então foi como se ela estivesse fazendo jóias”, conta Lou Eyrich.
Mesmo com críticas pelo roteiro da série (por não seguir um padrão de tempo - os anos não são em sequência), o figurino foi o ponto que mais se destacou, deixando a equipe muito orgulhosa por ter feito um trabalho fiel ao original.
Agora é sua vez de contar pra gente qual é a sua recriação favorita e se você quiser assistir a série na Netflix, ela aparece como The Assassination of Gianni Versace. Fica a dica!
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